"Quem está falando?"


Quem tá falando?

Moro em São João Nepomuceno, cidade localizada na Zona da Mata mineira que dista aproximadamente 80 km de Juiz de Fora e 250km do Rio de Janeiro. Minha cidade tem um pouco mais de 25 mil habitantes e é bem acolhedora, mantendo tradicionais famílias e costumes interioranos. Nos últimos anos recebemos vários moradores de outras localidades. A principal economia do município é o vestuário, com centenas de confecções, facções e lojas de pronta entrega em serviço local e exportações.

Mas o assunto deste texto é de como são interessantes as maneiras de falar, ou melhor, dar notícias por aqui. Com minha experiência e sempre atento com os ouvidos “em pé” (risos) para os casos, fofocas, boatos e calúnias que acontecem, resolvi fazer um ligeiro comentário nesse espaço democrático do site. Aliás, são maneiras distintas de se passar informações, pois o boato é dito assim: - Estão dizendo por aí!; já as fofocas: - Você ta sabendo do que estão dizendo?; e a calúnia: - Menina! Senta aí. Você não vai acreditar!; e aí, lá vai bomba! (risos)

Elaborei uma lista de formas de dizeres pelos populares em São João, tais como os:

- Misteriosos: “Estão dizendo por aí” que Ciclano brigou com Fulano. (Quem está dizendo).

- O médium: “Ouvi dizer” que Ciclano é doido. (Quem disse? Um fantasma? Rsrsrs).

- Fonte duvidosa: “Aqueles caras” disseram que Ciclano não pagou a conta. (Gostaria de saber quem são aqueles caras).

- O esquecido: é a pior maneira de passar a informação, com esquecimentos e falta de detalhes. – Sabe quem foi preso? Foi o....! Filho do.....! Mora no.....! (risos)

- As más línguas: Segundo“as más línguas”, Ciclano foi enganado. (O que seria a má língua? Uma língua feia, deformada...?) e quais pessoas teriam essas más línguas.

- Os piolhos de cemitério: eles sempre sabem quem morreu, e parece que antes mesmo de tê-los morridos, rsrsrsrs....

- Os sentinelas: posicionados estratégicamente no Bar Central. (local de grande circulação de pessoas e de variados assuntos em pauta...rsrs)

- As fadinhas: tem a capacidade de transformar a empregada em princesa ou vice-versa, mas no nosso caso, a princesa vira empregada mesmo...rsrsrsrs....Tem o poder de construir histórias diversas sob pré-conceitos maldosos. Ex: traições de casais, inventam mortes (disseram que minha prima morreu afogada em Guarapari, mas o seu fantasma roda a cidade até hoje e tem carne e osso...rsrsrs), fulano está quebrado (se trocar de carro para um inferior), ciclano é gay (se for solteirão até os 40) e assim por diante.

O fato é que o anonimato sempre está presente nas informações mais corriqueiras da cidade, portanto, é difícil decidir em quais delas pode-se confiar, mas o pior é que a maioria dos habitantes daqui acreditam e isso pode causar transtornos incríveis.

Acredite se quizer, mas em São João eu já deparei com mortos nas ruas, aliás, o que já mataram de gente com essas conversinhas, vocês não fazem idéia. E o pior é o susto que se leva, porque fui muito inocente em acreditar. Eu, por exemplo, pelos boatos já fui casado em São Paulo (na verdade namorava, só isso), gay (fui Rainha do Barril¹ em 2005 e faço parte de um grupo de teatro, onde interpretamos entre os vários personagens, as BIbas²) e até amante de mulheres casadas, (risos)... Dou risada agora, mas quando acontece é desagradável e demora para corrigir a situação.

Tem uma arma das chamadas “más línguas” que é o achismo: Eu acho é muito complicado, podendo transformar-se real pela imaginação fértil de ouvintes e ter outras interpretações pelos menos atentos. Como citei acima, a cidade é pequena e a notícia chega rapidamente nos ouvidos dos outros. Efeito esse chamado de avalanche no jornalismo, onde o fato é dito de boca a boca sem ao menos a pessoa ter testemunhado o ocorrido.

Lembram daquela brincadeira do telefone? Aquela em que formávamos um círculo com os nossos amigos e começavamos com alguém dizendo uma frase no ouvido de outro. E era super engraçado quando a brincadeira chegava ao fim, após passar por bocas e ouvidos de dezenas de garotos e garotas, com a total deformação da frase inicial.

E é mais ou menos assim que acontece por aqui. O que já teve de gente morta e que estão vivas, de mulheres e homens que traíram e foram traídos com pessoas que nunca trocaram palavras. Afogamentos em cabo Frio e Guarapari são um dos boatos preferidos pelas línguas do mal. (risos)

Interessante é que as pessoas sentem a necessidade de se comunicar uma com as outras, mas que seja de forma limpa e sincera, sem falsas interpretações e omissões de fontes.

Comentários

  1. cara realmente eh sensacional ver as proporções que um comentário ganha quando atinge certos públicos! auhsuahsuh

    Mas o que seria da vida sem essas "más linguas"?? auhsauh
    desde que não interfiram em coisas sérias e nem brinquem com as msmas!
    abraço sabones!

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  2. valeu Giovane,como sempre...sabias palavras

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