O Cinema Mudo e suas primeiras produções

Convido os leitores do Blog do Sabones para uma interessante leitura sobre a evolução do cinema mudo. Texto este que elaborei no período de academia da Universidade Federal de Juiz de Fora para o professor Marco Antônio Bonette na disciplina Edição em Televisão.

Lua de Meliés (Imagem internet)
O objetivo era uma relação entre os diversos diretores e produtores de cinema do início do século XX e a evolução das primeiras décadas, até a chegada do cinema com som (falado).

O cinema tem seu nascimento no final do século XIX e de uma forma simples começou a representar imagens de acontecimentos cotidianos daquela época em filmes curtos, sem som e qualquer tipo de montagens, efeitos especiais, roteiros, direção e técnicas cinematográficas. Eles projetavam planos abertos, câmera parada e distante dos acontecimentos.

Nas três primeiras décadas de sua implantação as modificações aconteciam com as investidas de diretores europeus e americanos. Inicialmente, era uma câmera fazendo sempre o mesmo plano, sem cortes e sem closes em rostos e objetos (dispensando mostrar detalhes da cena). 

Plano de Edwin S. Porter em 1903 e um plano atual detalhando fundo (Imagem: internet)
A iluminação também era precária, fazendo uso da luz do dia. O avanço desse período passou a acontecer com o uso de dois ou mais planos de Edwin S. Porter em 1903. O elenco passa a ter entradas de cenas, ainda sem o cuidado da continuidade (sai de um lado e na próxima cena, entra do lado contrário), confundindo a plateia.
Edwin S. Porter faz uso de dois planos numa mesma cena (Imagem: internet)
Também tem as fantasiosas histórias do francês Meliés, com truques, o teatro e algumas montagens, também no início do séc.XX, ambos com filmes de 10 a 15 minutos de duração.
Viagem à Lua 1902 - Meliés (Imagem: internet)
Mas o cinema passa a ganhar dramaticidade e envolver o público com o ex-ator de teatro, o americano D.W.Griffity, considerado o primeiro grande cineastra mundial que produziu filmes com tempos extensos, porém valorizando os movimentos de câmera, roteiros históricos e conflitos que mantem atenção da platéia por horas. 

O nascimento de uma nação -  Griffity 1915 (Imagem: internet)
Griffity demonstrava preconceito no filme "O Nascimento de uma nação" ao colocar a Ku Klux Klan  (brancos) em conflito contra os negros (vilões). 

Ele também trabalha com vários planos ao mesmo tempo, e aproximou câmera às cenas, transportando o público para dentro da história.Isso causava frisson e angústia quando uma moça era perseguida pelo vilão ou se escondiade um pai furioso dentro de um armário, cena esta usada no filme “O lírio partido” (1919), quando o pai espanca a filha até a morte e nessa cena o uso das câmeras subjetivas; como se fossem os olhos dos personagens, um olhando para o outro.

"O lírio partido” (1919) - Griffity (Imagem internet)
O cinema de Griffith influenciou os cineastas russos que estudaram suas obras e a dramaticidade chamava a atenção de Lenin que acreditava nesta arte como grande mobilizador revolucionário. E neste cenário surge o realismo do russo Pudovkin que contestava o trabalho de Griffith, que segundo ele, o americano não fazia o uso da realidade e sim manipulava as imagens por decupagem, ordenando-as da forma que queria, sobrepondo ao tempo e com isso criar uma nova realidade a ele mesmo.

Segundo Pudovkin o diretor trabalhava com a matéria bruta, cada cena é como se fosse um tijolo, e eles eram colocados em ordem conforme a direção desejasse (mistura o início ao fim e etc).O russo fez algumas experiências, mostrar sem o som as expresões dos atores comparadas a natureza. Pudovkin usava a mesma estratégica de Griffith, mas com o objetivo bem mais político.
O realismo russo de Pudovkin 1915 - Filmes produzidos em plena 1ª Guerra Mundial (Imagem internet)
Outro russo tem destaque nesse período, Sergei Eisenstein. Baseado nas lições de Griffith e Karl Marx criou a teoria da montagem que se divide em: métrica, rítmica, tonal, atonal e intelectual. Na década de 20 descobriu a força da montagem e da composição de imagens.

Dziga Vertov critica o que chamam de realismo no cinema, pois para ele, não é. Para Vertov, o cinema é um instrumento de artificialidade e de manipulação (pois o filme só mostra a verdadeira intenção do diretor) e opta em trabalhar com o cinema experimental do que o documentário.

"Um homem com a câmera" -  Dziga Vertov (Imagem: internet)
Alexander Dovzhenko traz um conceito visual diferente. Ao contrário das dramatizações de Griffith, ele trabalha com diversas imagens ligadas ao conceito escolhido pelo diretor, brincando entre a realidade e a ilusão. Não deixava claro ao público o que se tratava, não tem continuidade, a montagem é dirigida pela associação visual, mais do que a continuidade clássica.

Zvenigora, 1928 - Alexander Dovzhenko

Já na segunda década do século XX, o espanhol Luis Buñuel interessava no surrealismo. Um filme que incomodava o público, pois desobedecia a narrativa clássica com descontinuidades visuais numa trama não linear.
Luis Buñuel,  "O anjo exterminador" de 1962 (Imagem: internet)

Um espaço para Charlie Chaplin, o gênio do cinema mudo

Chaplin nasceu em Londres no ano de 1889 e iniciou sua carreira como mímico, fazendo excursões para apresentar sua arte. Em 1913, durante uma de suas viagens pelo mundo, este grande ator conheceu o cineasta Mack Sennett, em Nova York (Estados Unidos), que o contratou para estrelar seus filmes.  
Cena emblemática de Carlitos (Charlie Chaplin) sendo engolido pelas engrenagem de uma máquina no filme "Tempos Modernos" (1936) Cena fez com que o britânico fosse embora dos EUA e voltasse a Inglaterra, pois foi entendida como uma crítica ao Capitalismo (Imagem: internet)
Seu personagem mais famoso foi o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, este personagem denunciava as injustiças sociais. De forma inteligente e engraçada, este grande artista sabia como fazer rir e também chorar.

 Em 1918, no auge de seu sucesso, ele abriu sua própria empresa cinematográfica, e, a partir daí, fazia seus próprios roteiros e dirigia seus filmes. Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade.

Adepto ao cinema mudo, o também cineasta, era contra o surgimento do cinema sonoro, mas como grande artista que era, logo se adaptou e voltou a produzir verdadeiras obras primas: O Grande Ditador (crítica ao fascismo), Tempos Modernos e Luzes da Ribalta.
Em 1977, o mundo perdeu um dos grandes representantes da
 história do cinema (Imagem: internet)
Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha no período. Mas o sucesso dos filmes foi grande em outros países, sendo traduzido para diversos idiomas (francês, alemão, espanhol, português). 

por Márcio Sabones
texto Chaplin extraído de suapesquisa.com

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