SJN despede do amigo Carlos Mauro

 

Carlos Mauro (bateria) com a mão no ombro de Sebastião Barbosa (baixo). Festa comemorativa no Clube Campestre Democráticos, em dezembro de 1997 – Foto: Dalmo Filho

Servidor público aposentado e um dos principais nomes da música são-joanense, exímio baterista que ensinou o ofício aos filhos, morre aos 71 anos de idade

A cidade de São João Nepomuceno foi surpreendida com a triste notícia de falecimento de Carlos Mauro de Oliveira Martins, de 71 anos de idade, no início da madrugada de sábado (12/2), num trágico acidente na Rodovia MG-126, trecho que liga as cidades de Rochedo de Minas a Bicas, próximo a balança de pesagem de veículos. 

Na ocasião, Carlos Mauro saiu de sua casa para prestar socorro aos familiares que tiveram problema com automóvel e durante esta ação, ao chegar no local e sair de seu carro foi atingido por outro veículo que trafegava na pista. 

Um fato lamentado por todos, pois Carlos Mauro foi, é e sempre será lembrado pelos são-joanenses como um grande amigo, funcionário público e um dos mais respeitados músico da cidade, sendo a bateria, o instrumento que o colocou nos palcos e proporcionou um legado, pois teve o brilhantismo de ensinar a profissão para seus três filhos.

Carlos Mauro, esposa Vera e filhos Deivid e Gabriel (Foto: Arquivo família)


Filho mais velho de Carlos Mauro, Webber Martins


Carlos Mauro nasceu em São João Nepomuceno, no dia 3 de janeiro de 1951, casado com Vera Lúcia de Castro Martins, pai de Weber de Oliveira Martins, Deivid de Castro Martins e Gabriel de Castro Martins, avô de José, Maria Gabriela, João Felipe, Laura e Luiza, e ainda bisavô de Conrado. Irmão de Juracir (Jurinha), Itamar (in memorian), José Ari, Leonardo, Toninho (in memorian) e Sônia. 

Irmãos Jurinha, José Ari, Carlos Mauro e Itamar

Desde criança teve contato com a música, pois era filho do Jura, encantador músico de sopro da Orquestra Eldorado. O interesse pela bateria veio desde cedo, onde aprimorou o instrumento com facilidade, e ainda muito jovem já acompanhava o pai na respeitada orquestra. 

Ainda em sua adolescência e juventude, dividia a música com o futebol, pois foi jogador defensivo dos três tradicionais clubes são-joanenses, Botafogo, Mangueira e Operário. Além de fanático torcedor do Botafogo (RJ).

Equipe juvenil do Botafogo FC de São João Nepomuceno, em junho de 1968. Jogo: Botafogo 3x2 Tupynambás JF.  Em pé: Carlos Mauro, Anginho, Aécio Cruz, José Maria "Marota", Toninho Pimenta, Márcio Américo e Netinho Soares. Agachados: Zezé "Pelúcia", Piorra, Zé Maria LaCava, Capelinha e Paulo Afonso Pimentel.


Carlos Mauro na bateria

Sua rica trajetória na música atravessou os limites são-joanenses, pois além de fazer parte da Orquestra Eldorado, Grupo Trio Ramiro, Partido Alto entre outros da região, teve o privilégio de estar no palco acompanhando artistas como: Jerry Adriani, Nelson Gonçalves, Márcio Greyk, Nelson Ned e mais.

Sempre gostava de citar que esteve no palco da 1ª Exposição Agropecuária de São João Nepomuceno, organizada pelo então prefeito Hercílio Ferreira (Bolote), no início da década dos anos 70. 

Os filhos Webinho, Deivid e Gabriel aprenderam a tocar bateria com o pai ainda criança e por diversas oportunidades, a plateia são-joanense desfrutava de suas participações em vários grupos musicais, pois a presença daquelas crianças dominando aquele instrumento tão grande e complexo era encantadora. 

Em conversa com o filho de Carlos Mauro, Deivid (representando toda família nesse momento difícil) citou que quando o Barrerito veio a cidade para um show, o pai foi procurado por ele para compor sua banda, pois o baterista do grupo teve um mal-estar.

“Meu pai tinha um outro compromisso no dia e não podia faltar, daí sugeriu o meu irmão mais velho Webinho, que na época era adolescente, para tocar com o grupo do Barrerito. Meu pai sempre confiou e nos passou confiança para encarar os desafios. Assim, o Webinho foi muito bem e impressionou o Barrerito, que em seguida convidou meu irmão para fazer parte de seu grupo. Webinho trabalhou com Barrerito por anos, trouxe novos aprendizados e compartilhou com a gente”, lembrou Deivid.

Carlos Mauro trabalhou 40 anos na
Policlínica/Sala de vacinação.

Carlos Mauro foi servidor público municipal, e trabalhou na Policlínica, no setor de vacinação por 40 anos. Conhecido e respeitado por todos, já estava aposentado, mas sempre lembrado pelos colegas de profissão. 

O ex-secretário de Saúde, Heldemir Azevedo Alves disse da satisfação de conhecer e trabalhar com o amigo. 

“Quando estive pela primeira vez na pasta da Secretaria tive a oportunidade de um contato maior com ele e já sabia de suas qualidades como baterista, mas o conhecendo pessoalmente foi a certeza que também era um excelente servidor da área da Saúde. Às vezes, eu brincava dizendo que ele devia ter vacinado quase toda cidade, pois na verdade grande parte passou em suas mãos na hora de vacinar. Estamos tristes com sua partida, mas conforta a certeza que ele está junto de Deus Pai, e que a festa começou no céu, pois chegou o baterista”.

Equipe da Policlínica de São João Nepomuceno na década dos anos 80


Para citar Carlos Mauro, o nosso amigo, peço a licença para narra em primeira pessoa, os nossos encontros, seja na rua, nos shows, ou na Policlínica quando o chamava de “o maior baterista da era contemporânea” e ele com sorriso no rosto, colocava a mão no meu ombro e dizia: “– Meu amigo, muito obrigado. Você é demais. Vá na paz!”.

Era assim, simples, carinhoso, respeitoso e com olhos nos olhos que cada um seguia seu caminho para casa ou trabalho. Deivid diz da importância do pai na vida de toda família:

“Meu pai foi o nosso herói, ele nos criou da melhor maneira possível, nunca deixou faltar nada, nunca mediu esforços para nos ajudar e as pessoas também. A música sempre esteve presente em casa, pelo meu avô, meu pai e sempre convivemos com ensaios, aprendendo quando assistíamos ele tocar e ele sempre escutando músicas boas (MPB, Jazz, orquestras). Gratos pelo caráter, humildade e honestidade que ele deixou pra gente. Um pai muito preocupado, que ligava o tempo todo, perguntando se estava tudo bem. Muito amor mesmo e somos eternamente agradecidos”. 


Esta matéria assinada por Márcio Sabones foi capa do jornal Voz de S. João, de São João Nepomuceno, edição nº 5.754, de 19 a 25 de fevereiro de 2022, conforme ilustração ao lado.





 




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