Sr. Alencar de 96 anos e Sr. Sampaio de 93 anos foram pracinhas brasileiros na 2ª Guerra Mundial |
Quando o mundo vivia num de seus
maiores pesadelos, a 2ª Guerra Mundial, com conflitos na Europa entre as Forças
Aliadas (lideradas inicialmente pela Inglaterra e França, e logo depois com o
apoio dos Estados Unidos, União Soviética e Brasil) contra a tríplice aliança
entre Alemanha, Itália e Japão que durou entre os anos de 1939 e 1945,
culminando na morte de milhões de pessoas, os dois entrevistados dessa
reportagem estavam nas suas juventudes no Brasil.
Cerimônia Dia da Vitória em SJN |
Em 1941, o carioca José Vidal
Sampaio, hoje com 93 anos de idade, entrava como voluntário do Exército
Brasileiro na Cia Antiaérea da ainda capital Federal, o Rio de Janeiro. “Eu era
solteiro e com os andamentos da guerra, mesmo o Brasil fora dela, o Exército
preparou uma Companhia Especial e eu estava nesses treinamentos, até que o
submarino alemão afundou nosso navio na costa litorânea brasileira e assim,
entramos no conflito. Isso foi em 1943, e daí nossa Companhia ficou instalada
na Restinga da Marambaia (RJ). Não embarquei para a Europa, nossa missão era
tomar conta do litoral e claro, a nossa capital”, explicou o pracinha Sampaio.
Também convocado para resguardar
o litoral brasileiro, na região nordeste ficou o jovem soldado Alencar
Setembrino dos Reis, hoje com 96 anos de idade e natural de Guarani (MG), e assim
como o sr. Sampaio de boa memória e gozando de ótima saúde.
Márcio Sabones entrevista pracinhas brasileiros |
“Eu não estava no
Exército quando começaram a convocar para a guerra. Morava com minha família em
Guarani, tinha uma namorada e na época, o Exército fazia sorteios para escolher
e convocar os soldados. Era uma mistura de medo, insatisfação, agonia e tristeza
de ter que participar de uma guerra. Poderíamos nunca mais voltar pra casa e
ver nossa família. Homens e mulheres eram encaminhados para quartéis em todo o
Brasil para instruções, treinamentos e formação militar. Eu fui para o 12º
Batalhão do Exército em Juiz de Fora (atual 10º BI). Depois para a vigilância
do litoral baiano em Caravelas, passando também em Fernando de Noronha, Porto
Seguro, Linha Oceânica e um lugar que chamava “pela macaco”, pois os animais
tinham febre amarela e perdiam os pelos. Muitos soldados adoeceram, e eu não,
talvez seja sorte. Ao todo um ano e três meses de serviços nas guardas do
litoral até o fim da guerra, o dia 8 de maio de 1945. Eu não conhecia ninguém e
ficávamos aguardando informações e notícias pelo repórter Esso. Era a maneira
que sabíamos o que acontecia na Europa. Ficávamos em guaritas que eram nossos
alojamentos e numa época precária, era uma sala fechada e nada entrava, nem água,
nem mosquito, nada mesmo. Em Caravelas, uma região com muitas cobras cascavéis
usávamos perneiras para proteger a canela para andar entre as matas e muitos de
nós tínhamos arranhões dos dentes delas no couro. Saber sobreviver com aquilo e
ainda a agonia de esperar um ataque nazista a qualquer momento, ou o chamado de
embarque para a Europa”, contou sr. Alencar com lágrimas nos olhos.
Sobre o medo e a angústia
daqueles meses intermináveis, os pracinhas responderam. “Medo vem e temos que
aguentar. Éramos soldados e a nossa missão era aquela”. Os dois ex- combatentes
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) não embarcaram para a Europa, como outros
milhares de brasileiros, mas sofreram os temores e as incertezas de uma missão
que parecia não terminar.
Depois de 72 anos do fim da guerra, os pracinhas lembram de detalhes de suas participações da FEB |
“Para entrar em contato com nossas famílias
escrevíamos cartas e também recebíamos. Era tudo demorado e examinado, Tanto as
nossas cartas e de nossos familiares eram abertas e lidas pelos oficiais, tudo
pelo receio de espiões e passagem de informações privilegiadas. Uma loucura,
muito triste”, citou pensativo o sr. Sampaio.
Questionamos os entrevistados
sobre São João Nepomuceno, e ambos responderam que viveram por aqui depois da
guerra. O carioca Sampaio, com o término do conflito foi morar em uma pensão de
mineiros, no bairro Santa Tereza, que era de parentes de sua falecida esposa, a
são-joanense Telma Fonseca Manzo Sampaio, neta do Sr. Miqueli. Eles se
conheceram, começaram a namorar, noivaram e casaram ainda no Rio de Janeiro. Há
42 anos mudaram para a cidade “Garbosa”.
Hoje, o Sr. Sampaio é viúvo e não teve
filhos. Já o Sr. Alencar, após licenciado do exército foi funcionário público e
quando incorporou à FEB em 1943 deixou a namorada, a sua atual esposa, a
guaraniense Ana Fernandes dos Reis, hoje com 93 anos.
Memorial com nomes de pracinhas de SJN |
Quando saiu da
incorporação e foi liberado, ele veio buscar a namorada em Minas Gerais. Casaram
e tiveram três filhos vivendo no Rio de Janeiro, onde trabalharam juntos, e
depois transferidos para Juiz de Fora e finalmente para a COBAL (Cia Brasileira
de Alimentos) em São João Nepomuceno, em 1967, onde já vivem por 50 anos.
Ao todo, 25 mil homens e mulheres
das Forças Armadas Brasileiras pisaram em território italiano para treinamentos
e combates, e 459 deles perderam suas vidas na guerra e outros 35 foram presos.
De São João Nepomuceno, 35 combatentes embarcaram para a Itália em 1944, para
os conflitos da guerra, e por lá, três deles morreram: Frederico Antônio
Bressan, José Garcia Lopes Filho e Saulo de Lima Vasconcelos.
Um memorial com a estátua de um soldado está numa praça no centro de São João Nepomuceno, a Praça dos Expedicionários, em frente ao Fórum. Neste mesmo memorial, uma placa com os nomes dos pracinhas de São João Nepomuceno que embarcaram para a Itália, no ano de 1943.
FOTOS DA PRAÇA DOS EXPEDICIONÁRIOS EM SÃO JOÃO NEPOMUCENO - MG
VÍDEO HINO DO EXÉRCITO
Por Márcio Sabones
(Matéria especial assinada por este jornalista no jornal
Voz de S. João, edição nº 5509)
Fotos e vídeo: Márcio Sabones
GALERIA DE FOTOS
(Evento comemorativo na Praça dos Expedicionários em 8 de maio de 2017)
Boa noite. Estou pesquisando o número correto de expedicionários de S.J. Nepomuceno. Segundo a placa instalada no monumento foram 35. Contudo há informações de que havia uma placa antiga com outra soma (42). Isso procede?
ResponderExcluirBOM DIA!... MEU NOME É HELDER, SOU DE GUARANI-MG E ESTOU TENTANDO DESCOBRIR OS NOMES DOS PRACINHAS GUARANIENSES QUE FORAM CONVOCADOS PARA COMBATER NA EUROPA NA 2ª GUERRA MUNDIAL!... PERGUNTA: VC TEM UM NUMERO CELULAR PARA EU TE LIGAR?...
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