Essa semana dei uma mexida em meus trabalhos antigos de faculdade e achei um interessante texto que elaborei junto ao colega de classe Rafael Albuquerque da leitura do texto “Violão e identidade nacional” de Márcia Taborda sobre o violão,
sua história e transformação como um instrumento musical que tornou símbolo da
música popular no país.
Na ocasião, o livro estava na programação do curso de Estudos Culturais, uma das matérias curriculares da minha graduação em Comunicação Social. O texto faz
com que o leitor busque no imaginário da população brasileira e questione sobre
o violão e sua trajetória. Vale conferir:
Foto: internet |
O violão, as respostas são sempre semelhantes no que referem tal instrumento a uma
identidade nacional e não são apenas iguais, mas que contribuem para a
construção de uma comunidade que existe apenas para brasileiros e são partilhados
das mesmas experiências próximas.
Primeiro
sobre o violão temos de colocar que ele não é um produto nacional (o
instrumento em si) e nem sua origem que é espanhola (com o povo cigano), mas o
que o fez se tornar nacional em terras brasileiras foi a sua aceitação e
difusão em meio a sociedade, em segundo e talvez até mais impactante e chocante
é que o violão nem sempre teve esse tipo de visão positiva ou nacionalista como
um instrumento que se identifica com o brasileiro. Essa questão é muito mais
ampla do que o imaginário sobre o instrumento nos mostra.
Vale
lembrar que o violão por muitos anos foi rotulado de “coisa de malandro”, de “desocupados”
e de “populescos”, distante do então sofisticado som de um piano ou violoncelo
que determinava a musicalidade apreciada em salões da então capital Rio de
Janeiro. Não era visto, adorado ou entendido pela classe A como um instrumento
de música erudita.
Diante
da história, várias questões frente a este instrumento. Na música, a análise de
que sempre haverá a discussão sobre os tipos de cultura e musicalidade, esta
como uma expressão cultural que separa a erudita com a popular; e como já
citado anteriormente, o violão quando surge no Brasil, em especial na capital
carioca em periferias e mal classificado e taxado pela elite cultural, não se
tratava de um instrumento clássico de concerto, e sim um instrumento das massas
e da boemia e logo com a vinda mais forte da música erudita, o violão foi um
alvo a ser marginalizado pela sociedade mais rica no Brasil.
Assim
como o samba que surge mais tarde nos morros do Rio de Janeiro, e que traz
consigo uma música originalmente brasileira, sem intervenções ou até mesmo
cópias das ricas letras e partituras européias, faz com que tanto o violão,
quanto o samba tem em comum uma forma diferente e particular de fazer e ouvir
música no Brasil, mas com a identidade brasileira. Assim como foi classificado
o mestiço no século XIX de o verdadeiro e legítimo perfil do brasileiro, mas
que ao mesmo tempo era distanciado dos brancos que compunham a elite social do
país, o samba e o violão eram distanciados por uma cultura copiada e seguida a
fio por brasileiros, de ser e ter as normas européias como a legítima.
O violão não era um instrumento erudito, por isso qualificado como "coisa de malandro" (Imagem: Internet) |
A
partir deste novo quadro pode e deve ser discutido o que fez com que o instrumento
tão estigmatizado, relacionado a malandragem e a boemia pudesse fazer parte de
um imaginário nacional brasileiro. Imaginando nas pessoas que tocavam esse
instrumento e as que o rejeitavam de maneira preconceituosa, de uma forma geral
conclui-se numa separação nítida entre a música erudita que era ensinada e que
fazia parte da educação e a musica popular que era uma expressão passada para
frente sem nenhum tipo de pré-preparo ou estudos para o mesmo.
A
questão é que apesar de haver essa separação ela não é completa, e sendo assim,
muitos músicos eruditos olharam para o violão com bons olhos por gostarem de
uma música popular assim como alguns músicos populares que acabaram obtendo
algum acesso a música erudita e perceberam nela e no próprio violão uma forma
de dialogar.
Catullo Cearense, autor de "Luar do Sertão" e Heitor Villa Lobos (Foto: internet) |
Dois
exemplos da situação anterior são o Catullo Cearense e Heitor Villa Lobos.
Catullo que era um músico popular que se utilizava constantemente do violão a
partir de uma proximidade da erudita e fez com que tal instrumento adentrasse
aos grandes salões e em momentos posteriores de sua carreira como músico chegou
a ingressar no Instituto Nacional de Música, desta forma valorizando o
instrumento, tornando alvo de estudos e aprimoramento entre os músicos da
época.
De
outro lado, o maestro Heitor Villa Lobos, músico com origem no erudito e que
viu no violão uma chance de fazer novos tipos de arranjos para a música
clássica. O encantamento de Villas Lobos refletiu na elite cultural brasileira
que passou a dar uma chance para aquilo que julgavam ser coisa de malandro. E
logo teve seu espaço nos principais salões da capital Federal e das emissoras
de rádios.
A
partir desses dois momentos, a “separação” que existia começa a se romper e a aceitação
do violão acontece entre a elite de forma natural. O violão ganha seu espaço e começa a ser visto
como o instrumento tipicamente brasileiro, pois foi um momento necessário de
auto-afirmação da cultura nacional. O Brasil, com seu violão passa a produzir
músicas com sua identidade.
Yamandu Costa, um dos maiores violonistas do país (Foto: internet) |
Ícones da música brasileira: João Bosco, Tom Jobim, Djavan e Gilberto Gil (Foto: internet) |
Além
dessa diferença, entre as pessoas e os espaços musicais e culturais que as
mesmas ocupavam, a popularização do violão vem forte com relação as grandes
festas e as músicas tocadas nestes mesmos eventos. No carnaval dos salões
cariocas e repletos de máscaras venezianas e marchinhas, nota que o samba está
muito próximo a mesma transformação, e que este ritmo tinha como um de seus
grandes instrumentos bases, o violão, e um ritmo que não faz referência aos
grandes salões de música clássica, mas que atinge aquelas pessoas muito
fortemente naquela época do ano.
O
violão se tornou uma expressão da cultura brasileira em meio a muitos conflitos
e preconceitos da música nacional e adentrou a comunidade imaginada que temos
no Brasil atual, mas que com influências tanto de músicos populares e eruditos,
o violão se consolidou no Brasil e é hoje talvez o instrumento mais tido como
nacional.
Gostei do seu blog, Márcio Sabones. Sucessos sempre!
ResponderExcluirObrigado Paulette, seja sempre bem vinda.
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