Vamos falar um pouco do Bloco do Barril e Carnaval de SJN



Figuras caricatas no Bloco do Barril. A esquerda de leque a atual rainha Luciano
e a ex-miss Yuri (foto: arquivo SJ Online)

Olá colegas leitores do Blog do Sabones. Diante de algumas pesquisas e conversas com diversas pessoas que fazem parte deste tão conhecido bloco carnavalesco de São João Nepomuceno, resolvi elaborar um texto que conta a história, suas influências, organização e curiosos detalhes do verdadeiro “arrasta multidões” da “Cidade Garbosa”.

Em 2015, atingi a marca de 30 anos de bloco e 10 anos de monarquia, pois tive a honra de ser Rainha do Barril em 2005 e organizar a edição de 2006.

A história

Tudo começou em 1973 quando José Geraldo Ferraz e seu irmão Flávio entre outros amigos tiveram a ideia de elaborar um desfile caracterizado no centro de nossa cidade. Contudo, um pequeno barril era puxado num carrinho de mão e todos os componentes (aproximadamente 30 pessoas) trajados de mulher desfilaram naquela que seria a primeira edição do Bloco.

Uma brincadeira que começaria partindo da casa do Sr Gené e Dona Cirene (pais de Zé Geraldo e Flávio Ferraz) localizada na Rua Nazareth (Rua do Sapo), centro da cidade. Naquele ano, a turma fez o trajeto pelo centro de São João e após duas voltas deram parada no Baile de Carnaval do Novo Clube Trombeteiros de Momo e coroaram como musa do Bloco, Marluce Henriques Fajardo, hoje considerada a 1º Rainha do Barril.

Com o passar dos anos o bloco foi ficando mais conhecido e tradicional, e em 1977 tivemos a coroação da 1º Rainha eleita, Keco Pinto, e a partir daí, todos os anos uma nova monarca tomava posse. José Geraldo sempre ficou responsável em "colocar o bloco na rua", mas com sua mudança em 1978 para São Paulo fez com que a Rainha eleita assumisse a responsabilidade de organizar o Barril para o ano seguinte, fato repetido até hoje. No início, o nome era Rainha Garbosa e somente anos depois passou a ser Rainha do Barril.
 
Eleições e premiações

Grupos fantasiados (foto: arquivo SJ Online)
As escolhas para a próxima Rainha ficavam com a pauta da atual monarca, que por convite e ou interesse de alguns candidatos eram eleitos. Por exemplo: Fulano é a atual Rainha e fez um convite para Ciclano assumir o próximo reinado; em acordo já teríamos a nova rainha do Barril que seria anunciado ao final do desfile. 

A partir do carnaval de 2008, com a criação da Associação do Bloco do Barril, um novo regulamento para a eleição da tão sonhada coroa mostrou outra configuração. Ao término do desfile, as ex-Rainhas (trajadas ou montadas) escolhem entre as candidatas a vencedora em votação aberta no microfone. 

Além das rainhas, são eleitas Miss Barril e Embaixatriz do Turismo (turistas ou são-joanenses que moram em outras cidades); e a ex-Rainha mais bela (produzida) leva o “Troféu Cassinho”, sempre lembrada ex-rainha que faleceu na década de 90. O Bloco premia os grupos de fantasias masculinos, femininos e mistos e até o carnaval de 2014 fazia a distribuição grátis de caipirinha (cerca de 1500 litros), fato que explicarei no próximo tópico. O Barril chegou a desfilar com um número superior de 25000 foliões, e atualmente registra um número acima de 15 mil pessoas.

O "Bloco do Barril" já é um dos mais tradicionais blocos carnavalescos de Minas Gerais atraindo turistas de todas as partes do país. Seu desfile acontece na segunda-feira de carnaval a partir das 17 horas, com concentração na Avenida Zeca Henriques até a Praça da Estação Rodoviária, centro de São João Nepomuceno.

Distribuição de Caipirinha


 Desde sua primeira edição em 1973, a tradicional caipirinha em um barril era degustada por foliões do bloco. Com o passar dos anos, a quantidade em litros da bebida foi aumentando, assim como o número de pessoas nos desfiles.

Sendo assim, até o carnaval de 2014 a distribuição gratuita de caipirinha acontecia, mesmo com críticas e reclamações, pois um grande número de pessoas embriagadas e atendimentos no Pronto Socorro da cidade também eram preocupantes.

Diante desses fatos e também de entender que a embriaguez era causadora de brigas e ocorrências policiais graves (facadas, tiros, etc), a juíza da Vara da Infância e Juventude da Comarca de São João Nepomuceno, Dra Flávia Vasconcelos decretou a Portaria nº 01/2015/GAB que proibia a distribuição gratuita da bebida durante o desfile. Desde então, o desfile do Bloco do Barril não faz a distribuição da caipirinha, apenas desfila com o Barril de 2 mil litros vazio para simbolizar a agremiação.

O Barril e eu

Preparando para o Barril de 2005 (foto: Nepopo.net)
A primeira vez que desfilei no Barril foi em 1985, tinha apenas 7 anos de idade. Inicialmente, sempre mascarado, pois até então não concordava com a ideia de vestir de mulher (risos). Naquela época, o Barril já era um grande atrativo de nosso carnaval, não o principal, mais um dos mais importantes. Tínhamos também a presença das Escolas de Samba (elas eram a atração principal) junto a outros blocos como Girafa, São José, Centenário, Garoa, São Cristovão, além dos bailes de carnaval nos Trombeteiros, Democráticos e Operário que levaram milhares de foliões para tremendas viradas de noite, independente da idade.

Sempre gostei de carnaval, aliás, minha família toda. Meu pai, o Sr José da Silva, mais conhecido como Zé Juquinha foi presidente da ESACA (Escola de Samba Avenida Carlos Alves) no final dos anos 80. Também tive o privilégio de ser presidente da Escola de Samba Mirim no início dos anos 90 a convite do amigo Leacir Reis, o Léo Batucada.

Com tempo, criei a coragem de travesti para o bloco, (risos), isso com 15 anos de idade. E desde então nunca mais perdi essa mania. Fui eleito Rainha em 2005 e fiquei responsável pelo desfile de 2006. É um peso e tanto, como diz o meu amigo Geraldo Rabello, que também já foi Rainha (1995): "Rainha por um dia e escrava por um ano" rsrsrsrs...

FOLDER PARA O BARRIL 2006 - MÁRCIO SABONES RAINHA




Fases do Bloco do Barril

Em conversa com amigos, parentes e de algumas pessoas que sempre tiro um tempo para falar de carnaval, esbocei algumas fases do Barril, confira:

1º fase: 1973 até 1984: de sua fundação até a entrada de Kassin como Rainha
No início, era apenas uma brincadeira de amigos, coisa de 30 pessoas e chega ao início dos anos '80 com mais de 1000 foliões. Até 1981, o título era Rainha Garbosa e somente depois Rainha do Barril. Tinha uma proporção menor de pessoas e por isso uma identidade tipicamente são-joanense. As músicas ficavam por conta de sambas enredos (RJ) e marchinhas.

2º fase: 1985 até 1991 – Glamour, Turma do Funil e fantasias
O Barril conhece uma Rainha histórica, Kassinho. Ele inovou o Barril em vários aspectos. A obrigatoriedade do uso de tamancos plataformas pela atual Rainha, pretendentes e ex-rainhas, carro alegórico para a atual Rainha e perucas diversas, cores, vestidos caricatos etc. 

A brincadeira começa a tornar o grande atrativo de nosso carnaval, prendia a atenção da cidade para deslumbrar as beldades que desfilavam pelas ruas do centro da cidade. Kassinho trouxe o luxo e a criatividade, mas nada que "arrancasse" a identidade do bloco. Mais tarde, Tonho Machadinho foi a primeira Rainha a desfilar com um carro de som (espécie do que seria hoje o Trio Elétrico). Milhares de homens e mulheres usando figurinos contrários. Nesse período, pode-se dizer que cerca de 90% das pessoas que desfilavam estavam fantasiadas. 

O nosso carnaval ainda reinava a base são-joanense, pois os turistas em sua maioria eram de parentes que viviam em outras localidades e disso, a presença da Turma do Funil que todos os anos saíam de Niterói (RJ) e juntavam a alguns são-joanenses para a exibição da bateria e cantos dos mais famosos e animados sambas de enredo.

3º fase: 1992 até 2000 – O axé, o fim dos carnavais de clube, o inchaço do Barril
Não podemos deixar de citar que temos o início de um novo estilo de se fazer carnaval em São João Nepomuceno. O carnaval de rua. Um dos primeiros a utilizar desse recurso no estado. O estilo baiano de comemorar a grande festa de momo trouxe o axé como o ritmo oficial da folia.

Um novo conceito para aquela cidade que projetava nas suas Escolas de Samba o “jeitão” Rio de Janeiro tão próximo daqui, mas que se orgulhava de tocar marchinhas e os hinos dos nossos clubes em longos bailes. Existiu, é lógico, resistência, mas nada que impedisse o novo estilo adotado, que mais tarde acabaria com os bailes de clubes. 

Começou daí uma atração turística de todas as partes do país, não necessariamente de parentes, como vinha acontecendo há anos. Nossa cidade começa a receber um número de turistas acima do esperado. O Barril, dono de um ibope positivo é abraçado por esses novos foliões de nossa cidade. Temos então, dois pontos de vista: 

- Positivo: a cada ano, o bloco começa a "bater recordes" no número de foliões. Isso causa uma maior divulgação do carnaval e o comércio local tem uma grande oportunidade de faturamento. Pessoas passavam seus carnavais em cidades vizinhas a Garbosa eram visitantes na nossa festa de segunda-feira. Nepopó City fica “super lotada” por conta disso. Por esse motivo, o nome São João Nepomuceno é confundido ao carnaval.

- Negativo: Identidade são-joanense. Cadê? Eis o problema. A ideia central do Barril é travesti de mulher. Trazer para o carnaval sua criatividade e de preferência, glamour! O nosso carnaval recebe muitos turistas, até que demais. Quero deixar claro que todos são bem vindos, mas o que não pode é perder “o nosso jeitinho” de fazer carnaval e não admitir tantos “xixi’s” nas ruas. Por favor!

4º fase: 2001 até 2012: O Funk, os xixi’s, o som automotivo, a descaracterização, a violência, a Associação Bloco do Barril
Em cena o funk carioca. Esse ritmo envolvente que nasce nos morros do Rio de Janeiro, disputa música a música o espaço sonoro de nosso carnaval com o axé. Aqueles resistentes agora pedem o axé, ao invés do funk...rsrsrs... Loucura né! Pois é carnaval! 

A turma do Bonde do Tigrão começou a invadir a praia dos foliões e “martela, o martelão!” Depois foi a Eguinha Pocotó, Vai Lacraia, Créu entre outros vários vencedores do Gramy Awards (prêmio máximo da música, uma espécie de Oscar)...rsrsrs... 

Uma nova era de sonorização começa: O som automotivo. Devido a potentes caixas de som que hoje em dia podem ser instaladas nos carros e digo de passagem, alguns são melhores e mais potentes que muitos trios elétricos por aí, deixa todo mundo surdo. Em 2005, a Praça Cel José Braz, deixa de ser palco dos carnavais da cidade Garbosa que vai para a Praça da Estação.

O Barril não diferente acompanha tudo isso e o funk também é tocado no seu trio elétrico, além dos carros que ficam estacionados na concentração distraindo muitos foliões que chegam a perder a saída do bloco. Atualmente, torna-se polêmico a permissão desse ritmo em nosso carnaval, devido a desconfiguração e problemas (brigas) em anos anteriores. 

As ex-rainhas do bloco abriram uma Associação do Bloco do Barril em 2007 e com ela, discutir prováveis mudanças para o bloco, como por exemplo: A escolha da próxima rainha em eleição aberta no microfone no palco pelas ex-rainhas e a atual, analisar a configuração do bloco e incentivar os foliões para fantasias etc.

Em 2010, a Câmara dos Vereadores aprovou uma lei para a proibição das músicas do funk e também sons automotivos. A Prefeitura além de gastar uma boa verba com segurança, fiscais para a festa, ainda tem de contratar vários banheiros químicos pela demanda dos “xixi’s”, outro sério problema com a quantidade de foliões e a falta de respeito em fazer xixi onde quer.

Voltando ao Barril, as Rainhas passam a se preocupar com Abadás, tem que ter, pois é a única maneira viável para a participação de casais e até mesmo crianças, sem correr algum risco de pisoteio e briguinhas. A primeira ocorrência com grau de grande perigo no carnaval de São Joao Nepomuceno aconteceu no Carnaval de 2012, quando jovens dispararam tiros contra outros rapazes no calçadão da cidade, no instante em que muitas pessoas assistiam ao desfile e alguns turistas foram atingidos por tiros na mão e nas pernas. Não teve vítima fatal, os tiros pegaram de raspão e a causa poderia ser uma “rixa” entre moradores dos bairros Santa Rita e Três Marias”.

A partir daí, o carnaval de São João Nepomuceno e principalmente o Bloco do Barril passam a ter uma imagem negativa pela mídia e redes sociais. Organizar carnaval na cidade passa a ser uma difícil missão.

5ª fase: 2013 até hoje: Diminui o número de foliões, medo da violência e resgate do Carnaval
Diante da imagem negativa da ocorrência do ano anterior, o carnaval da cidade passa a perder número de visitantes para cidades vizinhas. A Praça Cel José Braz volta a ser palco do carnaval são-joanense.

A Comissão de carnaval não permite o funk e sertanejos nos bailes de carnaval de rua. A tentativa é fortalecer o samba e as marchinhas para resgatar o carnaval da cidade, mas o número de foliões para a festa e Momo cai em grande número, somente na segunda-feira da folia, dia do Bloco do Barril um bom número de pessoas nas ruas, mas mesmo assim inferior ao das duas décadas passadas. O tradicional Baile do Hawai do Clube Campestre Democráticos acaba depois de décadas e para antecipar o sábado de carnaval, a Prefeitura lança o baile do Bloco Sassaricando e nas tardes de carnaval, o Samba na Matriz, ambos na Praça da Bandeira – Matriz. 

O medo dos moradores e turistas também são causadores dessa diminuição, pois os carnavais registraram ocorrências de destaque com tentativas de homicídio (2014 e 2015) e um homicídio (2013). Diante de ocorrências, reclamações e pedidos, a Portaria 01/2015/GAB proibiu a distribuição gratuita de bebida alcóolica no carnaval.

Mesmo assim, com o risco de ocorrências e sem a distribuição de sua tradicional caipirinha, o Barril desfila com glamour e um bom número de pessoas nas ruas do centro de São João Nepomuceno. Elegendo suas rainhas a cada ano e tentando na medida do possível convidar as pessoas para fantasiar.
O restante desta história será escrita por nós... Salve a Rainha!!!!

Lista das Rainhas do Barril – São João Nepomuceno MG

1973 – Marluce Fajardo Henriques (Homenagem Especial)
1977 – Keco Pinto
1978 – Geraldo Oliveira
1979 – Keco Pinto
1980 – Flávio Ferraz (Homenagem especial: Adil Pimenta, Rainha do Centenário da Cidade)
1981 – Emílio Sachetto Vitói
1982 – Sérgio Pereira
1983 – Dione Paes
1984 – Kassim Souza
1985 – Anderson Henriques “Delega”
1986 – “Tonho Machado”
1987 – Robinho Itaborahy
1988 – Sérgio Furiati
1989 – João Carlos Lélis Leite
1990 – Humberto Sachetto “Bezé”
1991 – Roberto Thomaz “Marreco”
1992 – Nem Sachetto
1993 – Carlos Torres “Naninho”
1994 – Jacques Barbosa Filho
1995 – Geraldo Rabello
1996 – Gláucio Souza
1997 – Hedmílson Sanábio
1998 – André Manzo
1999 – Marlos Itaborahy
2000 – Heverson Sanábio
2001 – José Heleno Alvim
2002 – Jeomar Vidal
2003 – Marcelo Fam
2004 – Anysio Estevão
2005 – Márcio Sabones
2006 – Gustavo Araújo
2007 – Ricardo Pereira
2008 – Marcelo Antonucci “Pitico”
2009 – Handerson Sanábio “Maninho”
2010 – Gabriel Loures
2011 – Samir Simões
2012 – Pedro Augusto Rezende
2013 – Antônio Furtado
2014 – Rafael Monteiro
2015 – Luciano Oliveira “Tourão”
2016 - Pedro Paulo Mendonça

 por Márcio Sabones

Comentários

  1. Márcio, por duas vezes vc falou na portaria e na proibição da distribuição de bebidas. Se não me engano, esta parte da portaria foi derrubada e a decisão de não distribuir bebida foi da Rainha e da Associação, não é verdade? E apesar disso, infelizmente, tivemos violência do mesmo jeito.

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