Especial: DESEMPREGO


Preocupação com desligamentos de funcionários, busca de melhorias no mercado de trabalho e futuro incerto em São João Nepomuceno


Discussões e análises da situação de empregos e desempregos na cidade e no país

O mês de novembro definitivamente não foi positivo no que diz respeito ao número de pessoas que perderam seus empregos em São João Nepomuceno. Durante as últimas semanas, tomamos informações de dispensas e demissões de centenas de funcionários de empresas são-joanenses. 


Sendo alguns de muitos anos de casa e outros que mal puderam mostrar seu potencial, pelo pequeno período empregado. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados e Confecções de São João Nepomuceno, o número de demissões na área têxtil foi de 220 pessoas no mês. O fenômeno de demissões tem sido um dos principais assuntos discutidos e comentados na garbosa, e por isso, o jornal Voz de S. João procurou profissionais e representantes de sindicatos, indústria, comércio e trabalhadores para a elaboração desta matéria, com o objetivo de entender a situação.

Resultantes para a crise

Matéria de capa do jornal Voz de S. João
Diante do número de 220 demissões no ramo têxtil da cidade, dado este cedido pelo Sindicato, conversamos com o presidente Sebastião Sérgio Rodrigues, “o Paraná” sobre prováveis causas: “Posso dizer que deste número de demissões, já temos 30% deles recompostos nos últimos dias. A situação deve voltar a normalizar e esses trabalhadores serão readmitidos. Acredito que em 2017 teremos a recomposição de todos no mercado de trabalho, e vejo poucas chances de acréscimo, ou seja, mais pessoas empregadas. O ramo têxtil é a vida de São João, é o sangue na veia do mercado que sofre com os fatores externos, como por exemplo, a dependência que temos no Brasil dos cinco grandes magazines internacionais (espanhol, judeu, inglês, português e norte-americano) que são os donos do ramo no planeta. O que vem acontecendo é que esses mega-empresários estrangeiros estão diminuindo custos, pois no exterior o desemprego é maior do que aqui, cerca de 20%, e daí estão pagando barato por nossas mercadorias forçando e pressionando o empresário aqui no Brasil ter que diminuir custos, e isso acaba acarretando demissões”, explicou Paraná. 

Também conversamos com o empresário do ramo têxtil, Luiz Henrique Castro que completa e cita situações que trouxeram à tona uma crise no setor. “Este ano foram fechadas centenas de fábricas tradicionais no Brasil, a última foi a Toyobo que aqui atuava há 56 anos. Multinacional séria, resultando na demissão de 400 funcionários em Americana (SP). Na verdade, esta crise vem assolando nossa indústria têxtil desde 2007, tendo como fatores principais a variação cambial, que resultou na inversão das exportações para importações desenfreadas, quando nosso real estava "valorizado" o que na verdade já era um engodo do governo. O sistema de governo assistencialista quebrou as empresas com cargas enormes de impostos, e dificultando cada vez mais a vida do empresário brasileiro. A criação da ABVETEX, por exemplo, veio impor dezenas de regras que nos trouxe mais despesas, sendo que nossos custos não nos permite agregá-las.Tentaram impor estas mesmas regras em Bangladesh, porém não tiveram êxito, pois o governo falou que lá, eles precisavam “encher a barriga” de milhares de pessoas. Para ter uma ideia Bangladesh é hoje o maior produtor de roupas do mundo, e tinha até pouco tempo um salário de U$30,00. Com relação aos nossos clientes todos estão falidos. Essa semana saiu a notícia de que o grupo Imbrands tem um grau de endividamento de R$600 milhões. Outra arbitrariedade é a compra da Leder por R$1,00, ao meu ver é uma afronta à economia do país, ou porque não dizer aos que se preocupam em pagar suas dívidas. Este mesmo tipo de transação foi feita entre Mesbla e Mapim anos atrás, e lembra no que resultou”, citou uma crise no ramo têxtil na cidade na década dos anos 90. 
Vestuário é o principal ramo da cidade (Foto: internet)
“Nossas confecções estão quebradas com a criação do cartão BNDES, que chamo de bolsa empresário. Muitos pegaram valores elevados sem se preocupar como iriam pagar, e não vão pagar, e com isto, perderam o crédito. Como muitos clientes não antecipam títulos e nem os bancos descontam, justamente devido ao grau de endividamento dos mesmos, não tem como fazer dinheiro, vira círculo vicioso. A crise demorou demais e a ferida virou gangrena, não tem mais cura. Os clientes querem roupas, mas não têm credito, as fábricas querem atender, mas não têm capital de giro. Resumindo: o país está falido”, desabafou o empresário Luis Henrique. 

Sobre esta declaração, questionamos sobre uma política voltada para colaborar com as empresas. “Tenho a certeza que ajudaria, só que será muito tarde para muitos que já se afogaram, pois só não explodiram ainda porque no nosso ramo consegue levar uma fábrica falida por anos”. O comerciante Álvaro do Carmo disse que vê como uma das soluções, além de apoio às empresas, o de capacitação dos funcionários. “Pessoas preparadas para o futuro e prontas para encarar situações adversas e abertas às mudanças”, citou. O presidente do Sindicato disse que os empresários que investem em tecnologia ficam longe da crise. E que é necessário uma reciclagem da mão-de-obra, novos profissionais (1º emprego, capacitação de funcionários e atualização dos antigos) como fatores preponderantes para o desenvolvimento. 

Uma luz no final do túnel

O empresário Álvaro do Carmo, da área comercial, diretor e ex-presidente da Associação Comercial e Empresarial (ACE-SJN) diz que o momento de instabilidade do país, principalmente pela briga política vem atrasando e atrapalhando o processo de desenvolvimento do mercado num todo. “Precisamos estabilizar para começar a caminhar. As demissões no fim de ano são corriqueiras, eu vejo acontecer todos os anos. O fato é que em especial, este ano, com muitos escândalos e brigas políticas não estamos conseguindo chegar na luz do fim do túnel. Ela esta lá e estamos caminhando em direção à ela, mas não estamos aproximando. Mas se for olhar de um ponto de vista positivo, nos últimos anos aqui em São João, eu vejo várias pessoas que criaram seu próprio negócio depois de serem demitidas. Pode perceber a quantidade de salões de beleza, ambulantes, pessoas vendendo doces e artesanato que surgiram. Eles criaram seus próprios negócios devido a um momento de crise e buscaram alternativas. Até aqui na minha loja, eu comecei com venda de tecidos somente, hoje até eletrodoméstico comecei a comercializar, quando em listas de presente de casamento, que muitas são colocadas aqui, eu não disponibilizava os eletros e assim, perdendo a chance de vendas”, comentou Álvaro que acredita num processo de formação de novas atividades na cidade diante do momento vivido. 

Conversamos também com Fátima Alves, ex-costureira de uma confecção são-joanense, e há seis anos ficou desempregada e criou alternativas para a vida profissional. “Quando fiquei desempregada foi um desespero. Na segunda semana em casa, o meu sobrinho participou de um curso do SEBRAE, e lá ele e o grupo tinham que promover a venda de um produto. Ele pediu ajuda pra fazer doces e bolos. Sempre fiz muito bem, mas só para o pessoal de casa. Quando eles foram às ruas para vender, o resultado foi positivo e ganharam um bom dinheiro. Daí ele me deu a ideia de fazer para vender e comecei. Hoje vivo disso, sou dona de meu negócio, atendo as normas de higiene, tirei alvará na Prefeitura e além dos doces e bolos, vendo bombons, amendoins, balas e faço bolo de aniversário e salgadinhos para encomenda, e tenho a minha lojinha em casa”.


Variação de empregados e desempregados em SJN, região, MG e Brasil
Comparativos dos meses: Janeiro a Outubro 2016
Locais
SJN
Microrregião JF
Minas Gerais
Brasil
Admissões
1.947
51.454
1.375.524
12.198.836
Desligamentos
1.791
53.327
1.436.066
12.991.086
Variação
156
- 1.873
- 60.542
- 792.250

Comparativos dos meses: Janeiro a Outubro 2015
Locais
SJN
Microrregião JF
Minas Gerais
Brasil
Admissões
1.827
60.490
1.615.095
14.765.602
Desligamentos
2.071
63.567
1.734.658
15.664.316
Variação
-244
-3.077
- 119.563
- 898.714

Ao compararmos as tabelas com os dados do mesmo período do ano (Jan/Out) dos anos de 2015 e 2016, percebemos que em São João Nepomuceno, a nossa microrregião de Juiz de Fora, o estado de Minas Gerais e no Brasil, o número de desligamentos são maiores do que as admissões. Exceto somente em SJN, no mesmo período deste ano. No ano de 2015 a situação esteve mais delicada.
Fontes: Ministério do Trabalho e Previdência Social - MTPS

Dados comparativos

Buscamos os números do período dos meses de janeiro a outubro dos anos de 2014, 2015 e 2016 para uma análise de variações de empregos e desempregos em São João Nepomuceno, dos quatro setores que mais empregam na cidade (Têxtil, Comércio, Administração Pública e Agropecuária)

TÊXTIL
2016
2015
2014
Admissões
928
831
1.450
Desligamentos
865
1.171
1.335
Variações
63
-340
115
1º emprego
35
29
80

COMÉRCIO
2016
2015
2014
Admissões
356
387
444
Desligamentos
376
400
394
Variações
-20
-13
-50
1º emprego
29
19
59

ADMIN. PÚBLICA
2016
2015
2014
Admissões
230
157
211
Desligamentos
95
73
98
Variações
135
84
113
1º emprego
03
04
06

AGROPECUÁRIA
2016
2015
2014
Admissões
61
85
43
Desligamentos
61
50
42
Variações
00
35
01
1º emprego
01
05
08

Márcio Sabones
(Matéria de capa do Jornal Voz de S. João, edição nº 5486,
assinada por este jornalista)
 

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