Jeferson: O cadeirante capoeirista

Jovem é exemplo de superação, alegria e de vida (Foto: Márcio Sabones)
Nossa equipe deparou recentemente com uma cena inusitada e incrível no calçadão de São João Nepomuceno, ao observar uma roda de capoeira e entre os capoeiristas, o jovem cadeirante Jeferson Oliveira, de 23 anos de idade. Mas como? Deve perguntar o leitor.

Vídeo com Jeferson jogando capoeira

Na passagem da infância para a adolescência, Jeferson perdeu os movimentos das duas pernas, e mesmo assim não se entregou ao desânimo ou uma depressão. O rapaz que esbanja simpatia e sempre atende a todos com um sorriso, é um dos componentes da Capoeira “Mata Fechada - SJN”, do mestre Faguinho por três anos. Ele começou a praticar o esporte quando aluno da Escola Girassol (Pestalozzi) da cidade e não parou mais. 

Mestre Faguinho e Jeferson
Em conversa com Jeferson, ele nos revelou o que a capoeira significa em sua vida. “É tudo! Eu amo a capoeira e participar dos eventos com a Mata Fechada. Todos são meus amigos e divertimos muito nas rodas e nos cantos. Aprendi a me virar e fazer movimentos que não conseguia”, explicou Jeferson. Faguinho disse que os movimentos da capoeira dão elasticidade e agilidade ao Jeferson e isso ajuda em sua vida para movimentar e ter sua independência. “Você pode observar. Ele se vira da melhor maneira possível. Ele sobe e desce da cadeira de rodas, troca de roupa, ginga com a gente e é muito esperto. É um excelente menino. Esta sempre nas rodas sorrindo e com vontade de jogar capoeira. Aprendemos muito com ele. Um verdadeiro exemplo para todos”, emocionou o mestre.

Perguntamos ao Jeferson como faz com os movimentos e o uso dos braços para apoio e manobras. “Tranquilo. Não dói nada. Aos poucos fui treinando e aprendendo. No início, o mestre Faguinho ensinava os movimentos no colchonete, aí eu me jogava mesmo (risos). Depois fui acostumando com o chão e agora vou jogo onde for”. 

No encontro, Jeferson ainda fez questão de mostrar outro talento.  Ele, já na cadeira de rodas afastou da gente e remou para buscar sua mochila e retornou a nossa direção sorridente. Dentro dela tirou um caderno com vários desenhos, riscados e coloridos por ele. “Olha aqui o que gosto de fazer quando estou em casa. Esses desenhos são quando relaxo em casa”, mostrou. 

Jeferson exibe um de seus desenhos
Conferimos alguns desenhos e devemos confirmar o talento do jovem. Também questionamos ao mestre Faguinho se teve alguma resistência ou estranheza das pessoas com a presença do Jeferson no grupo. “Não. De forma alguma. As pessoas olham, admiram e ficam paralisadas para assisti-lo. Certa vez, uma senhora reclamou que era uma covardia deixar ele no chão e que poderia se queimar, e daí ele escutou e mostrou que não tinha problema e fez diversas gingas. A Mata Fechada é um berço de talentos com tantos exemplos, e fica assim fácil trabalhar a disciplina e a educação”, finalizou o mestre.

Por Márcio Sabones
(Matéria assinada por este jornalista no jornal Voz de S. João,
edição nº 5486 de 3 a 9 de dezembro de 2016)
Fotos: Márcio Sabones 

Comentários