Preparamos esta reportagem especial sobre um assunto que gera preocupação em toda a
população, a segurança pública. O objetivo desta matéria é mostrar a realidade e
o cotidiano de policiais civis e militares em São João Nepomuceno (MG).
![]() |
Operação anti-drogas em SJN 2014 (Foto arquivo Márcio Sabones) |
Para isto, o contato com
os responsáveis das instituições locais, e a busca de números oficiais de
ocorrências e incidências nos últimos anos. Assim, torna possível analisar a
violência na cidade e as dificuldades enfrentadas pelos policiais.
TABELA 1 – Número de ocorrências registradas
(Fonte: 29ª Delegacia Seccional de Polícia Civil)
Município
|
2011
|
2012
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016
(Jan
- Jul)
|
SJN
|
659
|
608
|
648
|
715
|
653
|
234
|
TABELA 2 – Ocorrências por naturezas diversas em SJN
(Fonte: 1º Pelotão da 136ª Cia de Polícia Militar de Minas Gerais)
SJN
|
2011
|
2012
|
2013
|
2014
|
2015
|
2016
(Jan
- Jul)
|
Homicídio
consumado
|
00
|
00
|
00
|
02
|
04
|
08
|
Homicídio
Tentado
|
00
|
02
|
13
|
04
|
12
|
06
|
Furtos
|
251
|
245
|
268
|
376
|
329
|
144
|
Roubos
|
08
|
10
|
11
|
11
|
37
|
16
|
Estupro
|
04
|
00
|
02
|
03
|
03
|
04
|
Estupro
de vulnerável
|
04
|
00
|
03
|
04
|
04
|
01
|
Lesão
corporal
|
108
|
99
|
95
|
125
|
114
|
35
|
Tráfico
Ilícito de drogas
|
37
|
11
|
24
|
19
|
19
|
6
|
Uso
e consumo de drogas
|
31
|
27
|
9
|
10
|
21
|
6
|
Vias
de fato/agressão
|
216
|
214
|
204
|
161
|
110
|
28
|
Nossa equipe buscou os dados das
ocorrências em São João Nepomuceno dos últimos seis anos, e assim a
possibilidade de fazer uma análise dos crimes em nove naturezas. Entre os anos
de 2011 até 2015, foram registradas 3.283 ocorrências, uma média de 656,6
registros por ano, ou cerca de 55 por mês. Para ter uma ideia em 2016, os dados
registram 234 ocorrências até o fechamento do mês de julho, dando uma média de
33,42 ocorrências mensais.
Caso continue nessa média, o ano pode fechar por
cerca de 401 registros no total, uma queda significante de 39% da média, mas
seria somente uma hipótese. Se do ponto de vista geral de ocorrências os dados
podem parecer positivos, de outro lado, ao analisar pela natureza de cada crime
a história é outra. Exemplo disso, impressionante o número de oito homicídios
registrados em sete meses de 2016 na cidade. Surpreende perceber que este
número supera o total de homicídios em SJN nos últimos cinco anos. De 2011 até
2015, segundo os dados, seis homicídios consumados foram registrados.
Dr. Carlos Roberto - delegado de Polícia Civil |
Diante dessas estatísticas,
conversamos com o delegado da 29ª Delegacia Seccional de Polícia Civil de São João
Nepomuceno, o Dr. Carlos Roberto da Silveira Costa e o comandante do 1º pelotão
da 136ª Cia de Polícia Militar de Minas Gerais, o Subtenente Rossetti. O
delegado recebeu nossa equipe em seu gabinete e com os dados em mãos comentou
sobre esses resultados. “Nós tivemos no período dos meses de setembro de 2015
até abril de 2016, um momento crítico, num total de 11 mortes na cidade. A
maioria dos homicídios relacionados a problemas de briga de gangues ou de
tráfico de drogas. A população ficou assustada, nossa equipe e a Polícia
Militar ficaram empenhadas em capturar os suspeitos e ou autores desses crimes.
Com nossas investigações conseguimos apurar sete de onze casos, representamos quatro
mandados de prisões temporárias, duas por prorrogação temporária e outras duas
temporárias em preventivas. Depois do mês de abril de 2016, quando das duas
últimas prisões de pessoas de extrema periculosidade, não ocorreram homicídios
na cidade até a data do dia 6 de julho, do nosso último levantamento. Além
desses quatro presos, outros dois suspeitos estão foragidos da justiça, sendo
que seus atos criminosos também não vêm acontecendo na cidade. Acredito que se
eles estivessem nas ruas de São João, os homicídios poderiam continuar”.
Subtenente Rosseti, comandante 1º Pelotão PM |
O
subtenente da PM Rossetti em sua sala de comando disse-nos de que os autores de
crimes na cidade em sua maioria são de reincidentes (pessoas que praticam o
crime, são presos, conseguem a liberdade e retornam a cidade, e assim a cometer
crimes novamente). “Estamos sempre atentos para isso, infelizmente as nossas
leis favorecem os criminosos e com isso eles retornam à sociedade. São muitos
que prendemos diversas vezes e retornam”, lamentou o militar. Corroborando com
o comentário do subtenente, o delegado Dr. Carlos mostrou-nos fichas de seis
criminosos da cidade, e todas com várias passagens pela polícia. “Só para ter
uma ideia, comigo aqui no registro policial e judicial constam nomes que
passaram por 19, 20, 28 vezes e autuados por mais de quatro flagrantes. Estou
dizendo de jovens entre 20 a 37 anos de idade. Tenho casos aqui que a pessoa
foi autuada três vezes em um ano e dois meses, em outra situação, cinco vezes
em dois anos. Daí eu te pergunto. O que mais a polícia pode fazer? Nós
prendemos e apresentamos a justiça, só que a lei solta.”, desabafou o delegado.
![]() |
Prisões e apreensões de reincidentes. Um drama enfrentado por policiais (Foto: internet) |
Além dessa situação crítica
enfrentada pelos policiais confrontando com as idas e voltas dos criminosos, outro
desgaste acontece no que diz respeito ao número reduzido de efetivo policial e os
plantões das delegacias de Polícia Civil. O subtenente Rossetti disse da
dificuldade enfrentada na cidade para trabalhar e registrar as ocorrências nos
fins de semana, feriados e no período noturno.
![]() | ||||
Operação Contenção PM em dezembro de 2015 em SJN |
“Estamos com um número reduzido
de militares e apenas três viaturas para atender a cidade e a zona rural, sendo
que uma delas está na oficina para consertos. Quando acionados, ainda temos de
dar apoio às cidades de Rochedo de Minas e Descoberto. Ficamos chateados porque
muitas pessoas não compreendem o nosso trabalho e ainda nos criticam. Não é
nossa culpa, pois com a ausência de plantões na delegacia de nossa cidade [nos
períodos citados anteriormente] devemos deslocar uma viatura e no mínimo dois
militares para o único plantão de delegacia em de Juiz de Fora e que além da
cidade com 600 mil habitantes, atende outras 20 cidades da região, na delegacia
de Santa Terezinha. Contudo, imagine a fila de espera para toda a cidade de JF
e regionais. Nesse período de tempo, podendo durar horas, a cidade fica
desguarnecida de uma viatura e de militares”.
Sobre os plantões, o delegado Dr. Carlos explica o que seria necessário
para atender 24 horas. “O plantão na delegacia acontece de 2ª a 6ª feira, das 8h30
às 12h e das 14h às 18h30. Pelo fato de poucos funcionários, não temos
condições de atender a noite, madrugada e fim de semana, pois na urgência de atender
uma ocorrência, a delegacia poderia ficar abandonada. Atualmente, atendemos com
dois delegados, dois escrivães e cinco investigadores (sendo um do trânsito);
assim fico com quatro deles a disposição dos serviços, e ainda, estamos cedendo
um deles à delegacia de Juiz de Fora”, explicou o delegado Dr. Carlos que por
17 anos está em São João Nepomuceno. “Quando cheguei nessa cidade, éramos
quatro delegados, quatro escrivães e dez investigadores e conseguíamos fazer
muito mais pela segurança. Mesmo assim o nosso atual número de delegados e
escrivães atende a demanda, mas pela quantidade de serviços precisaríamos de
outros seis investigadores, até mesmo para termos condições de atender em
plantões noturnos e no fim de semana”, explicou.
![]() |
Operações conjuntas entre as policias (Foto: arquivo Márcio Sabones) |
Outro dado que nos chamou atenção foi o
aumento de roubos na cidade. Em 2015 foram impressionantes 37 ao todo, e se
somarmos os anos de 2011 até 2014 temos 40 ocorrências desta natureza. Dr.
Carlos disse que esse aumento deve a relação dos criminosos ao consumo de
drogas (por dívidas e mesmo para manter o vício), e assim o usuário pratica o
crime constantemente até ser preso. “Os furtos também são constantes, qualquer
coisa vira moeda de troca para as drogas, principalmente o crack”.
As duas instituições estaduais
servem à população com o objetivo de trazer a segurança e ordem da população, e
ao conversar com os representantes das polícias observamos que estão
trabalhando no limite de suas condições. A Polícia Militar conseguiu junto a
uma Emenda Parlamentar do Estado uma verba de R$ 50.000,00, sem envolvimento de
qualquer político local para reformas do quartel. “O objetivo era conseguir 100
mil reais, mas com o valor que conseguimos já estamos reformando salas e ainda
conseguimos em leilão eletrônico, também do Estado, os materiais como pisos,
elétricos, etc. A Prefeitura cedeu-nos um pedreiro que já está aqui algumas
semanas trabalhando na reforma. Nosso quartel precisa de obras, um lugar melhor
para trabalhar”, explicou o subtenente.
Quartel da 136ª Cia Polícia Militar de São João Nepomuceno (Foto: Márcio Sabones) |
A 29ª Delegacia Seccional de Polícia
Civil atende por investigações, combate a criminalidade (atendimentos e
operações), inquéritos, TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrências) e Lei Maria
da Penha na parte criminal, e também com uma banca examinadora de Trânsito
(Registro de Veículos) nas cidades de: SJN, Rochedo de Minas, Descoberto,
Bicas, Maripá de Minas, Guarará, Pequeri, Rio Novo, Goianá, Piau, Mar de Espanha,
Senador Cortes e Chiador; emissão de carteira de identidades, este último,
aguardando liberação da Secretaria de Segurança Pública em Belo Horizonte para
reiniciar os trabalhos. “Todos esses atendimentos acontecem com poucos
funcionários. “Mesmo assim estamos empenhados nos inquéritos e muitos
criminosos que atormentaram a população nesta cidade estão presos. Só para ter
uma ideia, na cadeia de Bicas, dos 84 detentos, 55 deles são daqui de São João
Nepomuceno. Aquela cadeia atende a 10 cidades da região”.
Além do Dr Carlos, o
delegado Dr. Adauto Corrêa divide a demanda de serviços, atendimentos,
procedimentos e andamentos de inquéritos na delegacia que assim como diversas
no estado e no país sofrem por falta de estrutura e demanda de servidores. Dr
Carlos lembrou que recentemente, junto a frentes partidárias da cidade e
representantes da comunidade estiveram na Assembleia Constituinte em Belo
Horizonte para pedidos formalizados de apoio e de recursos. O delegado ainda
informou que até o final deste mês, cerca de cinco mil investigadores para o
Estado estarão se formando na ACADEPOL e fica na expectativa de conseguir
assim, a demanda requerida na reunião da capital mineira.
29ª Delegacia Seccional de Polícia Civil de São João Nepomuceno (Foto: Márcio Sabones) |
Por Márcio Sabones
(matéria ESPECIAL assinada por este jornalista no
Jornal Voz de S. João, edição nº 5475 de 17 de setembro de 2016)
Comentários
Postar um comentário