Luis Quirino: Morre uma estrela e nasce uma lenda

Último show do Quirino no The Pub em fevereiro de 2017 (Foto: Arquivo Portal Fatos Net)
Uma das figuras mais conhecida e querida de São João Nepomuceno, o showman Luis Quirino de Freitas, cantor, carnavalesco, ex-jogador de vôlei, ex-goleiro, ex-árbitro de futebol e servidor público aposentado morreu no último dia 12 de maio, quando estava internado no Hospital São João por complicações graves de saúde. 

Quirino ficou 18 dias internado, e diariamente recebia visita de familiares e amigos. Ele estava recebendo o total apoio e atenção por 24 horas de dois grandes colegas, Onofre Faria (Tim) e José Clério. No dia 10, o quadro piorou e foi para a UTI não tendo mais comunicação. 

Luis Quirino morre aos 79 anos de idade e tem velório repleto de homenagens (Foto: Márcio Sabones)
Ele completaria 80 anos de idade em 16 de julho, mas não conseguiu atingir tão esperada data, dita por ele, certa vez a este jornalista em uma entrevista. “Quando fizer 80 anos, quero fazer uma seresta com canções que marcaram minha vida, entre elas “My Way” de Frank Sinatra e “Emoções” de Roberto Carlos. 

Luis Quirino de Freitas nasceu em São João Nepomuceno em 16 de julho de 1937, no local chamado de “Ponte de Pedra”, na saída para a cidade de Descoberto, filho do sr. João Quirino de Freitas e dona  Maria Thomazia de Aquino. Ao todo, o casal teve sete filhos: Além de Quirino, Benício (boi), Lurdes, Nadir, Iraci, Iracema e Luizinho. Apenas Benício e Lurdes estão vivos.


Quirino, goleiro do Botafogo FC na juventude
Na juventude, Quirino foi ao mesmo tempo goleiro de futebol e jogador de vôlei. No futebol passou por vários clubes da cidade como o Operário, Mangueira, Botafogo e União de Roça Grande, sendo campeão municipal em todos. Na região, o XV de Novembro de Rio Novo, Pombense de Rio Pomba, Tibério de Guarani, Leopoldina de Bicas e Aymorés de Ubá. 

No vôlei, com uma forte equipe que também contava com os jogadores Adil Pimenta, Cacau, Egon, Veríssimo entre outros foram campeões do interior de Minas Gerais pelo Mangueira FC. A equipe tinha o Sgt. Gibran do Tiro de Guerra como técnico. Mesmo depois de se aposentar da vida de atleta, Luis Quirino tornou árbitro, respeitado e dono de um rigoroso critério em campo. A maior barreira vencida por Quirino foi a “quebra de tabu”. 

Homossexual assumido desde a juventude, em tempos diferentes do atual, quando a discriminação era dura e até proibia a entrada em recintos sociais como salões de clubes, o jovem Luis Quirino encarou a situação e sem esconder sua verdadeira opção sexual viveu e foi respeitado. Há alguns anos, num bate papo no Bar Central revelou. 

“Preto e viado não entravam em festas da sociedade. Por muitas vezes assistia aos bailes pela janela do clube, a mesma ficava aberta por cauda do calor e dali eu acompanhava os passos das danças e os cantos de belas canções. Não foi fácil, mas eu resisti ao tempo, e hoje, sou convidado para entrar e apresentar em todas as casas da cidade, da mais sofisticada e rica até a mais simples e pobre”, lembrava daquela época com lágrimas nos olhos. 

De plateia de janela de clube à estrela dos palcos são-joanense. A música sempre fez parte da vida de Quirino, e com a amiga Nely Gonçalves formou a dupla “Los Seresteiros”. Já no final da década de 70, na escola de samba de sua paixão, o GRES Esplendor do Morro do bairro Santa Rita, onde viveu por décadas, criou o grupo Roraima, onde reinou nas noites de sextas-feiras com serestas e forró.

Seresta de Quirino do bar do Juá na Matriz de São João Nepomuceno (Foto: Arquivo Márcio Sabones)
Quirino tornou figura fundamental para festas da cidade como Exposição e Carnaval. Na folia, a participação em todas as escolas de samba da cidade com composições de samba enredo e homenagens, como a Flor da Mina nos anos 90 destacando Quirino, Hermano e Marivaldo, amigos inseparáveis. 

Em 1997, a convite do amigo advogado Dr. Helinho, o showman realizou o sonho de viajar para Paris, a capital da França, além de conhecer a Itália, Vaticano, Mônaco e a Espanha. Desta viagem, uma coleção de histórias divertidas que eram contadas pelo próprio Quirino. Foram quase 40 anos de serestas com a companhia de músicos como os saudosos Rubens Pinton (teclados) e José Maria Pororó (guitarra) e nos últimos 19 anos com o juiz-forano Caio dos Teclados, músico este que esteve no velório e despedida do amigo emocionando todos com as músicas que por muitas noites encantaram plateias por toda a região. 

Diante de um momento triste, uma das mais belas cerimônias de despedida. Músicas, relatos, homenagens e sentimentos. Muitas pessoas utilizaram o microfone e relatavam passagens com o showman. Quirino participou ativamente da vida esportiva, cultural e social de São João Nepomuceno, era conhecedor de valores e experiente com os ensinamentos da vida. No velório, o jornalista Márcio Sabones prestou uma última homenagem imitando Quirino na canção “Como é grande o meu amor por você” de Roberto Carlos, além de cantos de Paulo Pável, Helenize de Freitas e Max Roger. 

O amigo de Quirino, o Tim disse que era um pedido dele, um velório que trouxesse emoção e alegria. “O Quirino queria ter os amigos aqui. Ele dizia isso. Queria música, pois ele amava cantar e ouvir boas canções”, comentou Tim, na capela nº 2 do Cemitério Municipal de São João Nepomuceno. Uma bandeira da Escola de Samba Esplendor do Morro ficou no caixão e abriu o cortejo fúnebre com o som solitário da batida de um surdo no cemitério municipal para o enterro. Assim como uma estrela, o corpo de Quirino foi sepultado na parte mais alta do cemitério, onde descansará pela eternidade. 

A PEDIDOS DA FAMÍLIA, SABONES CANTA NO VELÓRIO DE QUIRINO. ÚLTIMA HOMENAGEM AO AMIGO COM SUA IMITAÇÃO

por Márcio Sabones
Fotos e vídeos: Márcio Sabones


Comentários

Postar um comentário